Bullying
: o que é ?
Brigas, ofensas, disseminação de comentários maldosos,
agressões físicas e psicológicas, repressão. A escola pode ser palco de todos
esses comportamentos, transformando a vida escolar de muitos alunos em um
verdadeiro terror. A questão da violência na escola é muito discutida
atualmente sob o nome de bullying, que é exatamente o uso de práticas
violentas, baseadas na força e no poder.
Estudos indicam que as simples “brincadeirinhas de
mau-gosto”, hoje denominadas bullying, podem revelar-se em uma ação muito
séria. Causam desde simples problemas de aprendizagem até sérios transtornos de
comportamento humano.
Mesmo sendo um fenômeno antigo, mantém ainda hoje um
caráter oculto, pelo fato de as vítimas não terem coragem suficiente para uma
possível denúncia. Isso contribui com o desconhecimento e a indiferença sobre o
assunto por parte dos profissionais ligados à educação. Pode ser manifestado em
qualquer lugar onde existam relações interpessoais, principalmente na escola e
no ambiente familiar.
Bullying: significado do termo
A palavra bullying é derivada do verbo inglês “bully” que
significa usar a superioridade física para intimidar alguém, ação baseada na
força e no poder. Também adota aspecto de adjetivo, referindo-se a “valentão”,
“tirano”. Como verbo ou como adjetivo, a terminologia bullying tem sido adotada
em vários países como designação para explicar todo tipo de comportamento
agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às relações interpessoais.
As vítimas são os indivíduos considerados mais fracos e frágeis dessa relação,
transformados em objeto de diversão e prazer por meio de “brincadeiras”
maldosas e intimidadoras.
Segundo Cleo Fante, no livro “Fenômeno Bullying: como
prevenir a violência nas escolas e educar para a paz” (2005), os atos de
bullying entre alunos apresentam determinadas características comuns, descritas
a seguir:
• Comportamentos deliberados e danosos, produzidos de
forma repetitiva num período prolongado de tempo contra uma mesma vítima;
• Apresenta uma relação de desequilíbrio de poder, o que
dificulta a defesa da vítima;
• Não há motivos evidentes;
• Acontece de forma direta, por meio de agressões físicas
(bater, chutar, tomar pertences) e verbais (apelidar de maneira pejorativa e
discriminatória, insultar, constranger);
• De forma indireta, caracteriza-se pela disseminação de
rumores desagradáveis e desqualificantes, visando à discriminação e exclusão da
vítima de seu grupo social.
As vítimas do bullying
A vítima pode ser classificada, segundo estudiosos da
área, em três tipos:
1.
Vítima típica: é pouco sociável, sofre repetidamente as
conseqüências dos comportamentos agressivos de outros, possui aspecto físico
frágil, coordenação motora deficiente, extrema sensibilidade, timidez,
passividade, submissão, insegurança, baixa auto-estima, alguma dificuldade de
aprendizado, ansiedade e aspectos depressivos. Sente dificuldade de impor-se ao
grupo, tanto física quanto verbalmente.
2.
Vítima provocadora: refere-se àquela que atrai e provoca
reações agressivas contra as quais não consegue lidar. Tenta brigar ou
responder quando é atacada ou insultada, mas não obtém bons resultados. Pode
ser hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora. É, de modo geral imatura, de
costumes irritantes e quase sempre é responsável por causar tensões no ambiente
em que se encontra.
3.
Vítima agressora: reproduz os maus-tratos sofridos. Como forma
de compensação procura outra vítima mais frágil e comete contra esta todas as
agressões sofridas na escola, ou em casa, transformando o bullying em um ciclo
vicioso.
O agressor pode
ser de ambos os sexos. Tem caráter violento e perverso, com poder de liderança,
obtido por meio da força e da agressividade. Age sozinho ou em grupo. Geralmente
é oriundo de família desestruturada, em que há parcial ou total ausência de
afetividade. Apresenta aversão às normas; não aceita ser contrariado,
geralmente está envolvido em atos de pequenos delitos, como roubo e/ou
vandalismo. Seu desempenho escolar é deficitário, mas isso não configura uma
dificuldade de aprendizagem, já que muitos apresentam nas séries iniciais
rendimento normal ou acima da média.
Espectadores
são
alunos que adotam a “lei do silêncio”. Testemunham a tudo, mas não tomam partido,
nem saem em defesa do agredido por medo de serem a próxima vítima. Também nesse
grupo estão alguns alunos que não participam dos ataques, mas manifestam apoio
ao agressor.
Como identificar os envolvidos no bullying?
De acordo com as indicações de Dan Olweus, psicólogo
norueguês da Universidade de Bergen e importante pesquisador sobre o assunto,
para que uma criança ou adolescente seja identificado como vítima ou agressor,
pais e professores precisam ter atenção se o mesmo apresenta alguns dos comportamentos
abaixo citados:
VÍTIMA
Na
escola
• Durante o recreio está freqüentemente isolado e
separado do grupo, ou procura ficar próximo do professor ou de algum adulto;
• Na sala de aula tem dificuldade em falar diante dos
demais, mostrando-se inseguro ou ansioso;
• Nos jogos em equipe é o último a ser escolhido;
• Apresenta-se comumente com aspecto contrariado, triste,
deprimido ou aflito;
• Desleixo gradual nas tarefas escolares;
• Apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes,
arranhões ou a roupa rasgada, de forma não-natural;
• Falta às aulas com certa freqüência;
• Perde constantemente os seus pertences.
Em
casa
• Apresenta, com freqüência, dores de cabeça, pouco
apetite, dor de estômago, tonturas, sobretudo de manhã;
• Muda o humor de maneira inesperada, apresentando
explosões de irritação;
• Regressa da escola com as roupas rasgada ou sujas e com
o material escolar danificado;
Desleixo gradual nas tarefas escolares;
• Apresenta aspecto contrariado, triste deprimido, aflito
ou infeliz;
• Apresenta contusões, feridas, cortes, arranhões ou
estragos na roupa;
• Apresenta desculpas para faltar às aulas;
• Raramente possui amigos, ou se possui, são poucos os
que compartilham seu tempo livre;
• Pede dinheiro extra à família ou furta;
• Apresenta gastos altos na cantina da escola.
AGRESSOR
Na
escola
• Faz brincadeira ou gozações, além de rir de modo
desdenhoso e hostil;
• Coloca apelidos ou chama pelo nome e sobrenome dos
colegas, de forma malsoante;
• Insulta, menospreza, ridiculariza, difama;
• Faz ameaças, dá ordens, domina e subjuga;
• Incomoda, intimida, empurra, picha, bate, dá socos,
pontapés, beliscões, puxa os cabelos, envolve-se em discussões e
desentendimentos;
• Pega materiais escolares, dinheiro, lanches e outros
pertences dos outros colegas, sem consentimento.
Em
casa
• Regressa da escola com as roupas amarrotadas e com ar
de superioridade;
• Apresenta atitude hostil, desafiante e agressiva com
pais e irmãos, chegando a ponto de atemorizá-los sem levar em conta a idade ou
a diferença de força física;
• É habilidoso para sair-se bem em “situações difíceis”;
• Exterioriza ou tenta exteriorizar sua autoridade sobre
alguém;
• Porta objetos ou dinheiro sem justificar sua origem.
O papel da educação diante do bullying
A educação do jovem no século XXI tem se tornado algo
muito difícil, devido à ausência de modelos e de referenciais educacionais. Os
pais de ontem, mostram-se perdidos na educação das crianças de hoje. Estão cada
vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõem para dedicarem-se à
educação dos filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou em caso de
famílias de menor poder aquisitivo, os filhos são entregues à própria sorte.
Os pais não conseguem educar seus filhos emocionalmente
e, tampouco, sentem-se habilitados a resolverem conflitos por meio do diálogo e
da negociação de regras. Optam muitas vezes pela arbitrariedade do não ou pela
permissividade do sim, não oferecendo nenhum referencial de convivência pautado
no diálogo, na compreensão, na tolerância, no limite e no afeto.
A escola também tem se mostrado inabilitada a trabalhar
com a afetividade. Os alunos mostram-se agressivos, reproduzindo muitas vezes a
educação doméstica, seja por meio dos maus-tratos, do conformismo, da exclusão
ou da falta de limites revelados em suas relações interpessoais.
Os professores não conseguem detectar os problemas, e
muitas vezes, também demonstram desgaste emocional com o resultado das várias
situações próprias do seu dia sobrecarregado de trabalhos e dos conflitos em
seu ambiente profissional. Muitas vezes, devido a isso, alguns professores
contribuem com o agravamento do quadro, rotulando com apelidos pejorativos ou
reagindo de forma agressiva ao comportamento indisciplinado de alguns alunos.
O que a família pode fazer?
Não há receita eficaz de como educar filhos, pois cada
família é um mundo particular com características peculiares. Mas, apesar dessa
constatação, não se pode cruzar os braços e deixar que as coisas aconteçam, sem
que os educadores (primeiros responsáveis pela educação e orientação dos filhos
e alunos) façam algo a respeito.
A educação pela e para a afetividade já é um bom começo.
O exercício do afeto entre os membros de uma família é prática primeira de toda
educação estruturada, que tem no diálogo o sustentáculo da relação
interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais elementos
necessários nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes
de autoproteção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção em
dose certa é elementar no processo evolutivo e formativo do ser humano.
O que a escola pode fazer?
Em relação à escola, em primeiro lugar, deve
conscientizar-se de que esse conflito relacional já é considerado um problema
de saúde pública. Por isso, é preciso desenvolver um olhar mais observador
tanto dos professores quanto dos demais profissionais ligados ao espaço
escolar. Sendo assim, deve atentar-se para sinais de violência, procurando
neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os
espectadores em principais aliados.
Além disso, tomar algumas iniciativas preventivas do
tipo: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalo; evitar em sala de
aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o
motivo. Também pode-se promover debates sobre as várias formas de violência,
respeito mútuo e a afetividade tendo como foco as relações humanas.
Mas tais assuntos precisam fazer parte da rotina da
escola como ações praticais e não apenas conceituais. De nada valerá falar
sobre a não-violência, se os próprios profissionais em educação usam de atos
agressivos, verbais ou não, contra seus alunos.
Professor graduado em Geografia - UEPB, Pós-graduado em
Ciências Ambientais - FIP/PB. Professor do Curso de Pedagogia do Instituto
Superior de Ensino de Cajazeiras - ISEC e Coordenador de Projetos Educacionais
da Secretaria Mul. de Educação de Passa e Fica - RN. cavalcantegeo@bol.com.br
Bibliografia
indicada para aprofundamento:
CONSTANTINI,
Alessandro. Bullying, como combatê-lo? : prevenir e enfrentar a violência entre
jovens. SP: Itália Nova editora, 2004.
CURY,
A. J. Pais brilhantes, professores fascinantes. RJ: Sextante, 2003.
FANTE,
Cleo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a
paz. 2. ed. rev. Campinas, SP: Verus editora, 2005.
GUARESCH,
Pedrinho; SILVA, Michele Reis da. Bullying: mais sério do que se imagina. RS:
PUC/RS, 2007.
TIBA,
Içami. Quem ama, educa! SP: Gente, 2002.
Site : http://meuartigo.brasilescola.com/educacao/bullying-no-ambiente-escolar-que-e.htm
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